Trocar e compartilhar bens de consumo ao invés de comprá-los. Essa é a idéia sustentável por trás do conceito de consumo colaborativo, um fenômeno que vem crescendo no mundo todo e no Brasil. Por trás deste conceito estão consumidores mais focados em usufruir de um produto ou serviço, abrindo mão do hábito da posse. Para essas pessoas, ter menos bens significa menos danos à natureza, além da redução de custos.
São serviços que, por meio da internet, crescem de forma vertiginosa e oferecem a troca, aluguel, empréstimo a até mesmo a doação de qualquer tipo de bem, sem a necessidade de equiparação do valor. A idéia, criada por Rachel Botsman e Roo Rogers, está pautada em quatro motivos fundamentais que provocaram a mudança de comportamento destes novos consumidores: a crise imobiliária de 2008, a preocupação com o meio ambiente, a retomada da importância da comunidade e a influência das redes sociais e a tecnologia em tempo real na interação entre pessoas.
Um bom exemplo desta nova modalidade de consumo é o Nex Coworking, um escritório compartilhado. Trata-se de um local onde vários profissionais compartilham um mesmo ambiente sem a necessidade de cada pessoa alugar seu próprio escritório. “Dessa forma os nossos coworkers cortam custos e também consomem menos recursos. Temos a mesma estrutura de um escritório convencional, além de incentivarmos as relações profissionais entre os coworkers. Compartilhar mais e comprar menos, esse é o objetivo”, explica o fundador do Nex, André Pegorer.
O espaço conta com 38 posições de trabalho divididas em duas salas. São arquitetos, jornalistas, publicitários, profissionais de TI, consultores, entre outros que dividem o mesmo ambiente. “Economizamos em vários aspectos. Do aluguel, passando pela energia elétrica, até mesmo nas relações de trabalho quando firmamos parcerias que são benéficas para todos”, revela o publicitário e sócio da agência de publicidade BRZ Creative, Eduardo Ribeiro.
Outra iniciativa paranaense é o Dois Camelos, aplicativo que surgiu em 2010 com a finalidade de trocar produtos. O modelo já conta com 5 mil usuários ativos mensalmente e 20 mil já cadastrados. “Basta o interessado se cadastrar no site gratuitamente. Os produtos são divulgados pelo aplicativo do Facebook e os usuários têm a possibilidade de publicar o produto no seu mural fazendo com que a visibilidade aumente significativamente”, afirma a fundadora do Dois Camelos, Fernanda Athayde.
Pautado na premissa de promover um consumo consciente e uma postura ambientalmente sustentável, diariamente são divulgados diversos produtos, entre eles podemos citar livros, brinquedos, games e eletrônicos. “De inusitado, talvez, um escapamento de carro e uma direção de Fusca original”, completa.
A partir do cadastro, basta os interessados em trocar os produtos conversarem e definirem a duração do tempo que cada um ficará com o produto. O aplicativo conta também com Pontos de Troca. “São parceiros escolhidos por acreditarem na importância do “pensar sustentável” e na certeza de que podemos fazer um mundo melhor”, lembra Fernanda. Os Pontos de Troca funcionam da seguinte maneira: você tem um livro, CD ou qualquer outro objeto, vai até um ponto de troca e realiza a troca por um outro produto que esteja lá disponível e que seja do seu gosto.
Fábio Picolo há três meses está cadastrado no Dois Camelos. “Todo dia olho o aplicativo em busca de trocas que possam ser interessantes. É quase como um vício. Pensar que posso achar um novo dono para algo que eu não queira mais ou achar algo legal que alguém não usava mais faz a ideia ser fantástica”. Entre os produtos para os quais Picolo procura novos donos, está um monitor LCD de 17 polegadas.
Outro bom exemplo de consumo sustentável vem da loja Endossa, uma loja colaborativa que surgiu em 2008, em São Paulo, com uma proposta diferente. “Aqui nós alugamos os espaços dentro da loja para várias marcas dos mais diversos produtos”, explica a empresária Nathalia Anring, proprietária da Endossa.
O aluguel funciona da seguinte maneira. O valor varia de R$ 140 a R$ 500 mensais, dependendo do tamanho do espaço na loja. A partir daí as lojas precisam alcançar uma meta de venda que corresponde ao aluguel o espaço. “Se a loja alcançar a meta - chamada de endosso - de venda, ela permanece no espaço, mas se não alcançar dá espaço para outra marca entrar”, revela Nathalia, que já conta com um espaço também em Curitiba.
No total são 144 espaços a disposição das marcas. Para entrar na endossa, é preciso fazer um cadastro e esperar na fila até que um espaço esteja vago. “Não há limite de vezes para entrar na loja. Mesmo que uma marca saia, ela poderá retornar, mas sempre aguardando na fila de espera”. A loja é a única no mundo com este conceito colaborativo
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, anualmente são consumidos mais de 120 milhões de unidades de eletrônicos e, pelo menos 500 milhões desses produtos encontram-se atualmente sem uso na casa dos brasileiros. Números da ONG Akatu, de consumo consciente, apontam que apenas 5% dos brasileiros são consumidores conscientes.
Atitudes como a de compartilhar mais e comprar menos evitam o acúmulo de lixo e a produção em larga escala de bens de consumo, além de gerarem uma economia alternativa e fazer do consumo colaborativo um serviço profissional. Não é a toa que o bike sharing, sistema de compartilhamento de bicicletas, é o serviço de transporte que mais cresce no mundo.
No mundo
O Zipcar, por exemplo, que é um famoso serviço de aluguel de carros pelo mundo é um bom exemplo de consumo colaborativo. Ao invés das pessoas comprarem seu próprio carro, elas apenas alugam para períodos em que realmente precisam. A empresa conta com mais de 5 milhões de usuários ao redor do mundo. Para cada carro a disposição para ser alugado, são 15 automóveis a menos nas ruas. Reflexo desse consumo consciente, é que nos últimos 20 anos caiu em 17% o número de jovens entre 18 e 29 anos de idade comprando carros novos, somente na Alemanha.