segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Paraná “criativo” emprega 671 mil
O Paraná é o quinto maior gerador de riquezas na indústria criativa, mas apenas o nono em um ranking de média salarial do país, composto por 13 estados. Os dados fazem parte do estudo “A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Os salários médios pagos pela indústria criativa no Paraná, R$ 1.673, é 27% menor que a média nacional, de R$ 2.296. O Rio de Janeiro tem a melhor remuneração no segmento, com salário mensal de R$ 3.014.
A pesquisa, com dados de 2010, levantou dados de 13 estados, que juntos correspondem a 90% da indústria criativa do país, que emprega profissionais nas áreas de publicidade, arquitetura e artes visuais, por exemplo. Das dez áreas analisadas, em oito os paranaenses recebem salários abaixo da média nacional (veja no infográfico). Os destaques ficam para Design, com remuneração acima da média, e Artes Cênicas, com o melhor salário do país.
O designer João Ângelo Belotto Filho trabalha desde 2010 em sua própria agência de design, em Curitiba. Dos sete funcionários, cinco trabalham com artes visuais. Para ele, há boas perspectivas no setor, principalmente no interior do estado. “No Paraná existem faculdades muito boas e por ser uma profissão relativamente nova, há muito espaço para crescer. A demanda por profissionais é alta”, analisa.
Os salários pagos aos profissionais de design na Região Sul chamam a atenção, por serem, no geral, mais altos que a média nacional – Santa Catarina tem a melhor remuneração do país para designers.
Para o gerente de estudos econômicos da Firjan, Guilherme Mercês, os salários no Paraná não são ruins e estão abaixo da média nacional porque as remunerações pagas nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo elevam os valores. “Esses estados puxam a média para cima, por causa da vocação que esses estados têm para determinados segmentos. Essa indústria possui um alto valor agregado e exige alta qualificação profissional. Há muito espaço para crescer, em todo o país, e certamente nos próximos anos haverá melhora nesses índices e oportunidade de crescimento”, analisa Mercês.
É nessa perspectiva que se baseia o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, que acredita que nos próximos anos haverá mais equilíbrio nos salários pagos no Paraná. “Eu fico feliz por esse dado, que mostra que o estado está gerando riquezas com a indústria criativa. Porém, sabemos que é preciso mais investimentos em inovação e uma melhora no nível da educação. A tendência é que os salários pagos no Paraná fiquem maiores e na próxima pesquisa deve haver mudança. É um novo filão a ser explorado”, ressalta Campagnolo.
Como explicação ao salário pago em artes cênicas, o economista da Firjan cita as várias atividades culturais em diversas cidades do Paraná. “São diversos festivais de teatro e dança, que ajudam na melhor remuneração”, avalia Mercês.
Em 2010, de acordo com o levantamento da Firjan, trabalhavam na cadeia da indústria criativa 671 mil paranaenses – 330 mil na indústria, 202 mil no comércio e 138 mil no setor de serviços. O PIB gerado pela indústria criativa no Paraná em 2010 foi de R$ 40,5 bilhões e corresponde a 1,8% de todas as riquezas do estado.
Setor remunera 45% mais que a média
Os trabalhadores da indústria criativa do Brasil, que engloba profissionais de áreas como televisão, música, cinema, publicidade e arquitetura, são mais bem remunerados do que profissionais dos demais setores. Em 2010, a renda média mensal do núcleo criativo foi de R$ 2.296, valor 45% superior à remuneração média (R$ 1.588) dos empregados formais. A explicação para o maior salário, de acordo com a Firjan, é o alto valor agregado da atividade e o elevado grau de instrução dos profissionais.
Considerando as atividades relacionadas e de apoio ao núcleo criativo, o peso da cadeia da indústria criativa no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode chegar a 18,2%, o que equivale a R$ 667 bilhões – essa participação chega a ser maior do que toda a economia da região Sul (16,6%) no PIB brasileiro, segundo a Firjan.
Em relação ao número de trabalhadores nas atividades do núcleo da indústria criativa, o total no Brasil saltou de 599 mil para 771 mil entre 2006 e 2010. O número de empregados “criativos” cresceu, em média, 8,5% ao ano nesse período (ou 29% em quatro anos), ritmo mais acelerado que o mercado de trabalho brasileiro em geral (5,8% ao ano ou 25% no período). Dessa forma, os empregados no núcleo criativo representaram em 2010 1,75% do total dos trabalhadores brasileiros, ante 1,7% em 2006.
O estudo faz referência à abordagem adotada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que sugere uma definição de indústria criativa como “os ciclos de criação, produção e distribuição, de bens e serviços que usam criatividade e capital intelectual como insumos primários”.
Festival de Teatro ainda não emplacou entre empresários
O Festival de Teatro de Curitiba é um dos responsáveis pela boa remuneração dos profissionais de artes cênicas no Paraná, de acordo com especialistas. Em 2012, o evento chega a sua 21.ª edição, após levar, em 2011, 200 mil espectadores para 400 espetáculos em 1,4 mil apresentações.
Apesar dos números, ainda há resistência dos empresários locais para incentivar o mercado cultural curitibano, na opinião de Rafael Perry, diretor da Infinitoo, empresa que atua no planejamento e desenvolvimento de projetos criativos e na captação de patrocínios. “Os empresários de Curitiba não entendem a importância para a própria marca na hora de investir em eventos culturais. As pessoas terão cada vez mais tempo livre e o mercado da cultura e entretenimento é o que mais vai crescer, porque é um ramo altamente sustentável: só precisa-se de ideias para colocar os projetos em prática”, analisa Perry.
Há seis anos a empresa atua no Festival de Teatro de Curitiba, usando como estratégia de expansão a criação de produtos dentro do evento para atender ao perfil de diferentes patrocinadores. “A economia criativa é uma terminologia nova e estão sendo criados indicadores para mensurá-la. Os ativos criativos de cada localidade precisam ser trabalhados para gerar renda”, ressalta.
Neste ano, o Festival de Teatro de Curitiba acontecerá entre os dias 27 de março e 08 de abril.
(Matéria veiculada pelo jornal Gazeta do Povo. Veja aqui a publicação original.)
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